Certas parcerias musicais aparentam combinar tão bem quanto batata frita com maionese, bebidas alcoólicas com direção ou fotos de gatos mortos com Facebook. Às vezes essas combinações, surpreendentemente, se encaixam bem, feito peças de Lego. Em outras ocasiões, são perfeitamente descritas por aquela frase clássica do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo.” A seguir, eis uma lista de 10 parcerias musicais que foram tão inesperadas quanto renúncia de Papa ou proposta de diminuição de ministérios feita pelo PMDB.
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Muitos atores, como Bruce Willys e Scarlett Johansson, já se aventuraram no mundo da música lançando álbuns com resultados pífios. Este foi também o caso de Stallone, que como cantor provou ser um bom intérprete de Rambo. Seu dueto com a rainha do country Dolly Parton, que faz parte da trilha sonora do filme
Rhinestone – Um Brilho na Noite, resultou em um álbum que é um excelente recomendação de presente de inimigo secreto. O filme não ficou muito atrás.
Rhinestone ganhou dois prêmios Framboesa de Ouro em 1984: Pior Ator (para o eterno Rocky Balboa) e Pior Canção Original (uma aberração intitulada “Drinkenstein”, que você pode conferir
clicando aqui, caso sofra de curiosidade mórbida).
Tonico & Tinoco, mestres da música sertaneja de raiz (dos bons tempos em que ainda não tinham inventado a praga do sertanejo universitário), juntaram-se à banda liderada por Roger Moreira na gravação da única canção inédita de
O Mundo Encantado do Ultraje a Rigor, coletânea de sucessos lançada em 1992. Foi uma mistura entre rock e música sertaneja que precedeu em 16 anos ao show que reuniu Chitãozinho & Xororó e Fresno no programa
Estúdio Coca-Cola, da MTV, especializado em promover encontros musicais inusitados de nomes como Banda Calypso e Paralamas do Sucesso, ou CPM 22 e Babado Novo.
Destaquei neste post a parceria
sui generis entre a banda inglesa que se destacou com seus videoclipes nos anos 80 e o grande cantor do Clube da Esquina, que faz parte do álbum que o Duran Duran lançou em 1993. Mas o fato é que Milton Nascimento poderia ser igualmente lembrado por suas colaborações surpreendentes com o Angra (em
“Late Redemption”) e com o RPM, com quem compôs e gravou duas músicas:
“Feito Nós” e
“Homo Sapiens”.
Quem diria que a cantora pop australiana, conhecida por hits chicletudos como
“The Loco-Motion” e
“I Should Be So Lucky”, um dia faria uma colaboração com Nick Cave, o lúgubre compositor de músicas como
“The Mercy Seat” (sobre um homem condenado à morte e prestes a ser executado numa cadeira elétrica)? Pois bem: Nick convidou Kylie para um dueto em uma canção soturna sobre uma mulher assassinada com uma pedrada às margens de um rio, gravada em um álbum apropriadamente intitulado
Murder Ballads, de 1996. E não é que o resultado ficou ótimo, a ponto da música ter sido considerada uma das 100 melhores músicas dos anos 90 segundo a
New Musical Express?
Álbuns de duetos, formados por um intérprete consagrado mais dezenas de convidados especiais, são uma fórmula clássica e mais do que estabelecida na indústria fonográfica. E se tornaram mais populares ainda depois que Frank Sinatra lançou seu bem-sucedido
Duets em 1993, em gravações ao lado de nomes tão ecléticos quanto Aretha Franklin, Julio Iglesias e Bono Vox. Tony Bennett, ao seguir a mesma fórmula, conseguiu fazer uma mistureba mais diversificada ainda em suas listas de convidados para os álbuns
Duets: An American Classic (2006) e
Duets II (2011), reunindo cantores como Andrea Bocelli, Juanes,
Amy Winehouse e Celine Dion. Mas creio que o ápice, em termos de colaborações inusitadas, é o seu dueto com Lady Gaga, conhecida tanto pelos seus hits pop quanto por seus
figurinos abilolados.
As palavras que dediquei a Sylvester Stallone no começo deste post podem ser perfeitamente aplicadas ao resultado esdrúxulo da combinação entre
Michael Jackson e o ator de
O Professor Aloprado. Você pode até dar
play no vídeo com eles, mas não creio que aguentará suportar mais do que 1 minuto com esse dueto tão feliz quanto barulho de giz riscado numa lousa.
Ok, é saudável ver artistas saindo de sua zona de conforto e arriscando-se em projetos diferentes. Mas a parceria entre o ex-vocalista do Velvet Underground e a mais do que consagrada banda de heavy metal não deu muita liga. Em entrevista dada ao USA Today sobre
Lulu, o álbum de 2011 gravado por Reed e Metallica, o cantor falou da reação pouco calorosa dada pelos fãs do grupo:
“Eles estão ameaçando atirar em mim. Nem sequer ouviram o álbum, mas já estão recomendando várias formas de tortura e morte.” Hitler foi outro que se manifestou
no YouTube sobre essa parceria…
Houve uma época em que o Sepultura foi a grande referência musical do Brasil para os estrangeiros, obtendo sucesso de crítica, reunindo multidões em shows e vendendo milhões de cópias de álbuns como
Arise (1991) e
Chaos A.D. (1993) por todo o mundo. Em 1996, lançaram
Roots, radicalizando a mistura de thrash metal com sonoridades brasileiras do álbum anterior. O ápice desse amálgama foi a gravação de uma faixa com Carlinhos Brown, o cara da Timbalada. Pena que, pouco depois, uma briga homérica entre os integrantes do grupo acabou resultando na saída de Max Cavalera, seu vocalista. O Sepultura nunca mais foi o mesmo, e esse episódio foi uma das inspirações para um artigo do site
ZeroZen intitulado
“A Maldição de Carlinhos Brown”, chamando o criador das caxirolas de tremendo pé-frio.
Outra estratégia marqueteira largamente usada pelas gravadoras é reunir um astro latino com outro brasileiro, a fim de que um cantor do Brasil consiga ser melhor aceito pelo mercado latino-americano, e vice-versa. E foi assim que surgiram parcerias formadas por nomes como
Juanes e Paula Fernandes,
Sandy & Júnior e Enrique Iglesias,
Alejandro Sanz e Ivete Sangalo e
Zezé Di Camargo & Luciano e Julio Iglesias, com resultados bastante duvidosos. Para mim, porém, o ápice dessas gororobas artísticas chegou ao seu apogeu com a reunião entre os mexicanos do Maná, banda com mais de 25 anos de estrada, e Thiaguinho, ex-vocalista do grupo de pagode Exaltasamba. Acho louváveis as tentativas de se quebrar o Tratado de Tordesilhas musical que faz com que o Brasil ouça tão poucas bandas que cantem em espanhol, mas desse jeito fica complicado…
Seria possível uma colaboração bem-sucedida entre uma banda de rock e um cantor de ópera? Havia um bom precedente:
Barcelona (1988), álbum que Freddie Mercury, em carreira solo, gravou com a cantora lírica Montserrat Caballé. Trata-se, porém, de um disco semioperístico, sem uma guitarra sequer. O caso de “Miss Sarajevo” é diferente: aqui temos Bono, The Edge, Adam Clayton, Larry Mullen Jr. e Brian Eno – produtor de
Original Soundtracks 1, álbum de 1995 que o U2 gravou com o pseudônimo de Passengers -, tocando uma balada roqueira com os backing vocals de luxo do tenor. A canção foi inspirada em um concurso de beleza, realizado em meio à guerra que assolava a Bósnia nos anos 90, criado com o objetivo de chamar a atenção das autoridades européias para as atrocidades que estavam sendo cometidas em Sarajevo, capital bósnia. O final do videoclipe exibe uma cena do documentário
Miss Sarajevo, dirigido por Bill Carter, em que as mulheres que participaram do concurso seguram uma faixa com a mensagem
“Não deixem que eles nos matem.” A colaboração de Luciano Pavarotti com o U2 resultou em uma das melhores músicas da banda, mas vale a pena ouvir também a
versão ao vivo de “Miss Sarajevo” em que Bono canta, de forma mesmerizante, os trechos do tenor italiano.
Pense Nisso!
Via Pensar Enlouquece