Com saúde frágil, escritor havia passado mais de quatro meses internado no ano passado
O desenhista, dramaturgo e humorista Millôr Fernandes morreu na noite de terça-feira (27), no Rio de Janeiro, aos 87 anos. Ele estava em casa e foi vítima de falência de órgãos múltiplos.
O corpo será velado a partir das 10h de quinta-feira (29) no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, no Rio. Segundo a assessoria do cemitério, o corpo será cremado no Crematório da Santa Casa.
Millôr havia passado mais de quatro meses internado no ano passado na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro. À época, a família não autorizou a divulgação de boletins médicos.
Um patrono dos cartunistas brasieiros, há polêmica sobre a data de nascimento de Millôr. A família não sabe ao certo se foi em 16 de agosto de 1923 ou em 27 de maio, mas a carteira de identidade do desenhista aponta como certo o dia 27 de maio de 1924. Nascido no Meier, bairro do Rio de Janeiro, Millôr deveria ter se chamado Milton Viola Fernandes. Porém, por causa de uma caligrafia duvidosa, foi registrado como Millôr – fato só descoberto por ele aos 17 anos.
Em 15 de março de 1938, deu o primeiro passo na carreira de jornalista, assumindo o ofício de repaginador, factótum e contínuo no semanário “O Cruzeiro”. No mesmo período, Millôr ganhou um concurso de contos na revista “A Cigarra” utilizando o pseudônimo Notlim. Posteriormente, ao assumir a direção da publicação, passou a assinar seus artigos, publicados na seção "Poste Escrito", como Vão Gogo.
Foto: Reprodução
Página da coluna "O Pif-Paf" na revista "O Cruzeiro" (1959)
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Três anos mais tarde, em 1941, o jornalista voltava a colaborar com “O Cruzeiro”, dando início aos 18 anos da coluna "O Pif-Paf" e ao momento áureo da revista, que passou dos 11 mil exemplares tradicionais a 750 mil.
Sucesso no país, Millôr dividiu o primeiro lugar na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires com o desenhista norte-americano Saul Steinberg, em 1955.
Dois anos mais tarde, suas obras ganhavam uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Em 1962 abandonou o pseudônimo Vão Gogo e assumiu o nome Millôr em seus trabalhos. Ele deixou “O Cruzeiro” no ano seguinte, após uma polêmica causada pela publicação do texto "A Verdadeira História do Paraíso", criticada pela Igreja Católica.
Em protesto à sua demissão, Millôr lança em maio de 1964 a publicação quinzenal “O Pif-Paf”, utilizando como jargão editorial "não temos prós nem contras, nem sagrados nem profanos". (Quinze anos mais tarde, ainda com o país sob a ditadura militar, a revista seria apontada como o ponto inicial da imprensa alternativa no Brasil pelo serviço de informações do Exército.)
O Pasquim
Após passagens pelo jornal português “Diário Popular” e pela revista “Veja”, Millôr participou em 1969 da fundação do jornal “O Pasquim”. Ao seu lado, estavam os cartunistas Jaguar e Ziraldo e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral.
Tendo o humor como foco,, o semanáro adotou tom politizado e criticava a repressão da ditadura. Nesse período, a publicação tornou-se um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro, ultrapassando a marca de 200 mil exemplares.
Foto: Divulgação
Charge de Millôr Fernandes
Humor de Millôr
Millôr assumiu a editoria do “Pasquim” a partir de novembro de 1970, mês em que a redação inteira do jornal foi presa após publicar uma sátira do quadro "Independência ou Morte", do pintor Pedro Américo. Graças a Millôr, o jornal manteve sua circulação, o que frustrou o objetivo dos militares – os jornalistas presos foram liberados em fevereiro do ano seguinte.
Em 1975, Millôr deixou "O Pasquim" após escrever o editorial de seu número 300, intitulado "Sem censura". Nele, o cartunista informava ao leitor que desde 24 de março daquele ano o jornal se encontrava livre da censura prévia. Porém, encerrava seu expediente afirmando que "sem censura não quer dizer com liberdade".
A última edição da primeira fase do "Pasquim" foi publicada em 11 de novembro de 1991, tendo como único integrante da equipe original o cartunista Jaguar.
Colaborador da revista "Veja" de 1968 a 1982 e de setembro de 2004 a setembro de 2009, Millôr processou o veículo da Editora Abril quando seu conteúdo foi colocado na internet - fato não previsto no contrato de seu primeiro período como colunista. O autor pedia uma indenização de R$ 500 mil.
Além das publicação na mídia diária, Millôr se notabilizou como autor de peças teatrais, como "Liberdade, Liberdade", "É..." e "Bons Tempos, Hein?!". Nas letras, publicou dezenas de prosas, como "Trinta Anos de Mim Mesmo", "Novas Fábulas Fabulosas" e "Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos".
Em 2000, lançou o site "Millôr Online", espaço utilizado para pesquisa de textos antigos e publicação de novos materiais. A última atualização ocorreu em junho de 2011.
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