sábado, 8 de dezembro de 2012

Final Fantasy VI - Blog do Amer



Esta não é a primeira vez que digo isso e provavelmente não será a última, mas RPG’s Japoneses (ou JRPG’s, pra simplificar) não são hoje o que um dia foram.

Voltemos no tempo até a metade da década de 1990. A geração dominante de consoles era a de 16 Bits e títulos de ação praticamente dominavam o mercado ocidental, luta, corrida, tiroteio, eram as opções que mais recheavam locadoras e encontrar algo mais destinado a narração de uma história, bom, era razoavelmente difícil.

No Japão, no entanto, as coisas eram diferentes. Não é uma afirmação equivocada dizer que o sucesso de um console muitas vezes dependia exclusivamente dos RPG’s que o acompanhavam. Graças ao gosto dos Japoneses pelo gênero, o mesmo pôde ser bastante refinado e obras de qualidade inquestionável foram criadas.

De Phantasy Star a Earthbound, de Secret of Mana a Chrono Trigger, jogadores apaixonados por histórias longas e personagens cativantes tinham inúmeras opções em mãos.

O auge desta maturidade narrativa foi alcançado em 1994, com Final Fantasy VI. Até hoje, poucas produções, Japonesas ou Americanas conseguem se comparar a sua complexidade e qualidade.

Vejamos agora o que torna este game tão incrível.

A história começa 3 mil anos antes do início do jogo. Neste tempo imemorial, um trio de deuses travava uma batalha interminável e imbutiam poderes mágicos nos humanos para assim construir seus exércitos. Após quase aniquilarem toda a vida no planeta, os três deuses perceberam a banalidade de seu conflito e o encerraram. Eles converteram-se em estátuas e se exilaram em um continente flutuante habitado pelas mais abomináveis feras. A humanidade então teve a chance de existir sem interferências.

No presente, o imperador Gesthal criou um vasto império tecnológico e com ele, tomou o planeta quase inteiro. De alguma forma, seus cientistas descobriram como refinar mágica a partir dos Espers (os humanos que foram transformados pelo poder dos antigos deuses) e passaram a utilizá-la como a mais terrível das armas. Graças a isso, a humanidade encontra-se a beira de um holocausto mágico, mais uma vez.

A aventura começa quando uma garota sem nome e dois soldados imperiais invadem uma cidade mineradora a fim de capturar um Esper que lá foi encontrado. Ao se depararem com ele, a criatura destrói a lavagem cerebral com o qual o império controlava a guerreira e lhe dá a opção de escolher seu próprio caminho pela primeira vez na vida.

Deste momento em diante, ela une-se a rebelião que opõe-se ao império, em busca de descobrir também sua verdadeira origem.

Claro, essa é só a ponta do iceberg. A história é muito mais complexa e detalhada, mas é difícil falar a respeito sem soltar Spoilers imensos.

Mas o maior trunfo de Final Fantasy VI está em seu elenco, que com 14 personagens (sem contar os membros temporários) consegue ser um dos mais fascinantes, senão O MAIS fascinante já criado para um título da série.

Terra (a personagem com quem começamos o game) está em uma jornada de auto descobrimento, tentando encontrar seu lugar no mundo, mas a mesma nunca parece forçada, ou tenta seguir o caminho da “heroína repleta de angústia” que se tornou o padrão em muitos JRPG’s. Além dela temos Celes, outra ex-general do Império que mudou de lado, e que é um dos raros exemplos de uma heroína Japonesa capaz de cuidar de si mesma nas horas de dificuldade.

Existe também Locke, o “caçador de tesouros” que não resiste a tentar ajudar uma donzela em perigo, embora a maior parte do tempo seja salvo por Celes, Edgar, o rei-engenheiro do castelos movel de Figaro que é um fracasso com as mulheres (por mais que ele pense o contrário), Sabin, seu irmão gêmeo mestre em artes marciais e boa praça em tempo integral, Gau, um menino selvagem que cresceu em meio aos monstros das pradarias do mundo, Cyan, rígido samurai e único sobrevivente do reino de Doma, Strago e Relm, respectivamente avô e neta de uma vila habitada unicamente por magos, Setzer, dono de uma das únicas aeronaves do mundo que não pertencem ao Império e jogador por natureza, Mog, um representante da (fofíssima) raça dos Moogles e sujeitinho muito mais casca grossa do que parece e Shadow, que é com certeza o melhor ninja que a Squaresoft conseguiu criar em todos os seus anos de existência.

Sinto muito, Yuffie.

Sem contar Umaro, o abominável homem das neves e Gogo, o mímico. Personagens secretos que embora não sejam vitais, ajudam a aumentar muito o charme do grupo.

Uma coisa que Final Fantasy VI faz muito bem, é trabalhar os relacionamentos dos membros da equipe. Embora todos se dêem bem e sejam camaradas com um objetivo em comum, há a a formação de “panelinhas” entre personagens que tenham algo em comum, ou que tenham enfrentado juntos certos obstáculos. Sabin, Cyan e Gau formam um “trio dinâmico” após sobreviverem juntos a um longo trecho onde fogem das forças imperiais, o relacionamento entre Celes e Locke é o mais próximo que temos de um casal romântico e existe toda uma história trágica entre Strago, Relm e Shadow, do qual propositalmente vemos apenas relances.

Além de toda essa gente, Final Fantasy VI conseguiu fazer direito também o vilão. Kefka é definitivamente o maior e mais completo exemplo de antagonista que a série já nos apresentou.

Final Fantasy sempre teve vilões fascinantes. Garland é um cavaleiro que eventualmente transforma-se no caos encarnado, Golbez é um mago tão poderoso que sua humanidade é questionada em mais de uma ocasião e Sephiroth é apresentado desde o início como uma força da natureza, alguem contra o qual os heróis não deveriam sequer cogitar a esperança de uma vitória.

Kefka surge como um mero coadjuvante, um alívio cômico, mas aos poucos a coisa muda e ele se torna um pesadelo ambulante. Sua grande motivação é apenas o gosto que tem pelo caos e violência. Ele não é uma criatura lendária, apenas um homem perverso, sádico e brilhante que com isso, consegue ser um monstro mais assustador que qualquer coisa que possamos imaginar.

Personagens bons muitas vezes salvam histórias com um enredo fraco. Assim como Chrono Trigger e Persona 4, Final Fantasy VI é um dos raros games que consegue reunir uma história fantástica com um elenco carismático e fascinante.

Enquanto isso, Final Fantasy XIII tenta transformar todo homem do mundo em pedófilo. Pelo amor de Deus, Vanille não tem 18 anos nem aqui nem em Midgard! Que decadência, Square Enix!

A apresentação do game é impressionante, somente Chrono Trigger conseguiu fazer melhor uso da potência do Super Nintendo.

Os personagens são apresentados no formato SD, pequenininhos, fofos e gorduchinhos. Os vemos assim quando andamos pelo mapa com eles e quando entram em batalha, não são modelos muito detalhados, mas transmitem bem os trejeitos de cada membro do elenco.

Os chefes e inimigos normais são mais ricos em detalhes, mas não possuem animação, o que era uma tradição na série nos títulos para 8 e 16 Bits. Quem não tem costume de jogar os games mais antigos de Final Fantasy pode se incomodar com isso inicialmente, mas é apenas uma questão de se habituar.

Os cenários são de tirar o fôlego e vão muito além de meramente passar a ambientação para a história. As cidades são vivas e bucólicas, cavernas são sombrias e sujas, florestas passam todo um tom de melancolia, desertos são agoniantes, montanhas trazem névoa e toda a sensação de altitude e por aí vai.

Final Fantasy VI também faz excelente uso de efeitos especiais. Magias e ataques específicos trabalham muito bem com transparência e luz e o jogo ainda emprega muito bem os Zooms em Mode 7 que eram uma das características mais marcantes do Super Nintendo.

Os efeitos sonoros vêm diretamente do acervo de ruídos brancos de que a Squaresoft dispunha na época. Com os tradicionais “Tssshhhhh” pra representar água corrente, “Tuposch” cada vez que um golpe atinge um monstro e o “Vuuuuuuoooooom” que acompanhava certas magias.

Pois é.

A trilha sonora por outro lado, é fantástica. Cada personagem possui seu próprio tema, composto de modo a representar da melhor maneira possível sua personalidade. A música de Gau é triste e traz sentimento de abandono, Edgar e Sabin dividem uma canção forte e cheia de nobreza e Shadow possui um tema que remete a filmes de Western, fonte que possivelmente foi a inspiração para o mercenário.

Não existe dublagem, pois afinal, este é um game de 16 bits. As unicas vozes presentes são a enervante risada de Kefka e parte das canções durante a ópera.

Mas como??? Você não conhece a cena na casa de ópera? Guri, melhor você começar a jogar Final Fantasy VI logo, antes que eu vá aí e te dê umas palmadas!

A jogabilidade de Final Fantasy VI o distingue não apenas dos demais títulos da série, como também de outros games do gênero. A primeira metade da história funciona como um JRPG tradicional, mas a segunda pode ser definida como um protótipo de sandbox.

Confuso? Deixa que eu explico.

Na primeira parte, Final Fantasy VI é linear e prende-se ao roteiro. Seu grupo segue de uma cidade para outra, com objetivos fixos bastante claros. É possível desviar-se brevemente de sua rota para ganhar level ou conseguir equipamento melhor, mas logo você estará de volta a seu trajeto original.

A segunda metade do game já é bastante diferente. Seu único objetivo é enfrentar o chefe final (o que pode ser feito a qualquer momento), mas é possível adiar este confronto por quanto tempo for necessário. Neste meio tempo, é possível reunir todo o grupo, viajar para inúymeras localizações que antes não estavam disponíveis, encontrar armamentos lendários, apostar itens nas batalhas do coliseu, enfrentar chefes secretos, enfim, o céu é o limite.

Toda essa liberdade é muito bem vinda, pois Final Fantasy VI tem um dos maiores e mais bem contruidos mundos já vistos em um game de sua geração. O mapa funciona como é de praxe na série: existe um mapa mundial onde é possível ver cidades, montanhas e florestas em versões miniaturizadas e estilizadas. Assim que entramos nestes lugares, eles se tornam cenários próprios e independentes do mapa, com seus próprios caminhos e segredos.

Combate é uma parte importante de Final Fantasy VI. O grupo se atracará com os inimigos através de encontros aleatórios, que felizmente, não são numerosos como no passado. Você ainda vai se irritar quando estiver com pressa para chegar a um lugar, mas na maior parte do tempo, é possível entrar em uma caverna (ou locação do tipo) com um número razoável de itens e um Level decente, e sobreviver aos perigos que ela oferece.

Cada personagem ainda possui uma habilidade única em combate, que usada sabiamente, pode virar muitas batalhas. Terra pode usar o “Morph”, com o qual se transforma em uma Esper e todos os seus ataques passam a causar o dobro de dano, Celes tem “Runic” com o qual é capaz de absorver magias inimigas, Strago é um Blue Mage, e graças a isso pode usar ataques que são exclusivos de certos inimigos, Sabin é dono da técnica “Blitz”, com o qual é capaz de desferir golpes devastadores contra os oponentes, cada um realizado através de um comando ao estilo de Street Fighter e por aí vai.

Estas habilidades únicas ajudam a diferenciar ainda mais os personagens e obrigam o jogador a bolar estratégias na hora de montar seu grupo. Não se trata apenas de reunir um lutador, um mago e um curador, mas sim de saber quais habilidades únicas serão mais úteis em cada situação.

Ainda existem os Magicites, cristais que podem ser equipados no grupo e que além de lhes dar o poder de evocar Bahamut, Ifrit, Shiva e as demais criaturas lendárias da franquia, ainda permitem aos personagens aprenderem novas magias e aumentam determinados atributos quando os mesmos ganham Level.

Dito isso, é justo afirmar que Final Fantasy VI é um dos JRPG’s mais quebrados de todos os tempos. Jogadores com paciência podem abusar do jogo de modo a construir um grupo de personagens ridiculamente poderosos.

Um exemplo: ao equipar a Magicite Bismarck em terra, a garota irá receber 2 pontos extras de força a cada Level ganho, o que fará este atributo chegar a seu nível máximo antes dela atingir Level 99. Basta equipá-la com a Genji Glove, que Terra poderá utilizar uma arma em cada mão, dando-lhe o item Offering, ela desfere quatro golpes seguidos com cada arma equipada.

Então, com todas estas combinações, basta lhe dar as espadas Ultima Weapon e Ragnarok, e Terra irá desferir oito ataques e causar o máximo de dano com cada um deles sempre que atacar, mais que o suficiente para eliminar qualquer chefe.

É possivel alcançar este potencial absurdo com toda a equipe. Existem equipamentos poderosos em demasia pelo mundo, e todos os personagens podem aprender todas as magias, assim, com boas 30 horas de “Grinding”, dá pra ter um grupo de heróis super fortes, com as melhores magias ofensivas e de cura, capazes de chamar o Bahamut de bichinha e sobreviverem ao tranco depois.

Saudade da época em que eu tinha tempo pra isso.

Final Fantasy VI é um dos melhores games de todos os tempos.

Seu enredo é brilhante, seus personagens são complexos e cativantes, seu mundo é imersivo, a jogabilidade é equilibrada o suficiente para agradar a jogadores casuais, mas beneficia muito aos hardcores que decidirem cravar seus dentes nela, e sua apresentação é belíssima, talvez mais impressionante hoje do que ná época de seu lançamento.

Este jogo representa o ápice dos JRPG’s e de Final Fantasy como um todo. A série infelizmente perdeu seu foco com a passagem dos anos e passou a dedicar-se mais a visual e estilo do que narrativa e originalidade.

É difícil encontrar as palavras certas para encerrar este artigo, então vou dizer apenas que mesmo após passar quase duas décadas com este game, ainda prefiro gastar meu curto e raro tempo livre o revivendo, do que conhecendo a maioria do que a indústria tem a oferecer hoje.

Grandiosidade é eterna.

Nota do Amer: 10

Cheers!!!


Via Blog do Amer (mas fui eu quem sugeri ele a fazer a resenha)

A única coisa coisa que deixa a desejar é a dificuldade (é muito fácil o jogo!). Mas por isso fãs brasileiros fizeram a versão hardcore (mto boa e difícil MESMO!) http://bloggamerpg.blogspot.com.br/2010/10/final-fantasy-6-hardcore.html

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